Luís Ramos trabalhou na Federação de Triatlo de Portugal desde 2004 até final de maio de 2018 quando se reformou.

O gosto pelo triatlo e a dedicação à modalidade desde 1989 deram rumo a esta tri-entrevista.

Foi em 1989, com 33 anos, que Luís Ramos, desafiado por um colega de trabalho, assistiu à sua primeira prova de Triatlo. Começou cedo a trabalhar numa ourivesaria, com apenas 15 anos, por imposição do pai, já que tinha chumbado o ano escolar – não por notas, mas por faltas! (risos). «Na altura o meu pai disse que tinha que ir trabalhar. Vi no jornal que havia uma vaga para uma ourivesaria, fui lá e fiquei logo a trabalhar», conta Luís. O ex-funcionário da FTP considera-se uma pessoa com sorte porque gozou de bom ambiente em todos os sítios que trabalhou, fazendo amizades durante o percurso profissional. «Há pessoas que se queixam do ambiente de trabalho, eu só tenho bem a dizer de todos os sítios em que passei, principalmente na Federação de Triatlo. Brincamos, trabalhamos e estamos presentes quando é necessário. Os colegas são todos excelentes, passaram cá por quatro direções, três comigo aqui trabalhar e o ambiente sempre foi muito bom»!
O seu primeiro emprego na Ourivesaria dava ao Luís 700 escudos ao final do mês (o equivalente a 3,50 euros, valor que custa acreditar nos dias de hoje!), seguiu-se um trabalho como paquete num Laboratório com um ordenado superior, cerca de 1200 escudos (equivalente a 6 euros). «Saí de lá, andei um ano sem saber bem o que fazer e com vários trabalhos temporários, até encontrar um trabalho na contabilidade em Campo de Ourique, já tinha o curso comercial na altura». Em 1973 entrou na Standard Elétrica onde trabalhou 31 anos com várias funções: linha de montagem, contabilidade, chefe de secção. Foi nessa altura que um colega lhe falou do triatlo já que o filho treinava a modalidade. «A primeira prova que vi foi o Triatlo de Coimbra e gostei muito do ambiente! Era um meio muito familiar que eu não via no atletismo!»
No dia seguinte, Luís Ramos inscreveu-se em aulas de natação nas Termas do Estoril, comprou uma bicicleta e começou a treinar e a participar em provas. «A partir de 1989 comecei a fazer provas do circuito – todas no formato super sprint, depois em 1990 participei no meu primeiro triatlo olímpico. Desde 1991 que fiz todas as provas que havia para fazer em Portugal e em Espanha, cheguei a participar em 30 a 35 provas por ano… até há 12 anos atrás que parei de treinar». Luís ou “o Ramos”, como é por vezes tratado, foi fazendo diversos triatlos super sprint até que decidiu completar um triatlo na distância mais longa, o primeiro em Portugal realizado em Idanha-a-Nova. O último lugar e as quase 15h46 que demorou a completar as distâncias (sensivelmente 3800 metros a nadar, 180km de ciclismo e 42km de corrida) não o desmotivaram, porque atingiu a façanha que – bem vistas as estatísticas – muito poucos, menos ainda em 2002, tinham alcançado. «Foi muito desgastante o triatlo porque em agosto à hora do almoço estava um calor abrasador», conta Luís Ramos.

Luis Ramos no Triatlo de Alpiarça nos anos 90

Luis Ramos no Triatlo de Alpiarça nos anos 90

No seu percurso desportivo participou em provas internacionais, campeonatos do mundo de triatlo e duatlo, campeonatos da europa, assim como no Campeonato Ibérico de Triatlo, em todas as distâncias possíveis, desde o super sprint à longa distância. «Sempre corri para manter a forma porque vinha de outras modalidades como basquetebol, voleibol, fiz remo, pratiquei desportos motorizados durante muitos anos, mas apaixonei-me pelo triatlo pela diversidade de modalidades que implica e pelo bom ambiente em prova.» Luís relata que gostava tanto do espírito de equipa presente na modalidade que uma vez convidou o Paulo Guerra (atleta) para participar, acabando por convencê-lo a participar no Triatlo de Oeiras. «No final da prova, o Paulo Guerra veio ter comigo e disse: Luís, quando terminar no atletismo, vou para o triatlo», o que acabou por acontecer, já que o atleta treinou durante dois anos no Belenenses antes de ir para o Brasil. Luís deixou de competir por razões familiares, mas ainda pensa em voltar a treinar. «Agora que me vou reformar pode ser que consiga arranjar tempo para treinar, faz-me muita falta o treino, embora por ter estado todos estes anos todos ligado à modalidade, me tenha custado menos do que se tivesse desligado de repente. Mas o ‘bichinho’ continua cá!».
Luís Ramos, que entrou para Federação de Triatlo de Portugal em 2004 para substituir uma funcionária da secretaria, ocupou o cargo– para além de funções diversificadas durante 14 anos– até maio de 2018.

Histórias dentro da história de Luís Ramos

Luís conta-nos que as provas eram diferentes quando se iniciou no Triatlo. O ambiente mantém-se excelente, mas havia muito menos participantes e algumas condicionantes logísticas. Se estivessem 40 atletas era já considerada uma prova com muita gente! «Como éramos poucos, os organizadores mimavam-nos muito, o Triatlo de Alpiarça, por exemplo, tinha cadeiras para nos sentarmos na transição e um alguidar com água para lavarmos os pés», conta Luís. Quando lhe perguntámos por histórias engraçadas, exclama: «Há tantas! Mas agora passa-me uma pela cabeça, que se passou num Duatlo em Castelo de Vide. Passávamos no segmento de ciclismo perto de Portalegre e havia uma descida com bastante inclinação que terminava numa curva de 90º à esquerda. Havia uma barragem logo em frente, penso que seria a barragem de Apartadura, não tenho a certeza. Foi onde dei até hoje maior velocidade em cima da bicicleta, atingi os 87km/h no conta-quilómetros e não fui aos 90km porque havia um rapaz atrás de mim que ao ver a curva começou a gritar: ‘olha se te faltam os travões, olha se te faltam os travões’. Com receio, comecei a travar.»
Como triatleta pioneiro existem muitas histórias, mas como funcionário da Federação de Triatlo também: «Havia uma tradição na organização das provas, em que um elemento do staff ia sempre ao banho vestido. Eu ainda tenho uma bolsa onde coloco o telemóvel, para no caso de me calhar a mim, pelo menos a carteira e o telefone estarem a salvo!»

A Federação de Triatlo de Portugal reconhece a dedicação de Luís Ramos, deixando um profundo agradecimento pelo seu contributo ao Triatlo nacional, esperando que o seu legado continue durante muitos e muitos anos!